sábado, 29 de dezembro de 2012

Pensamento

Escrever é uma brincadeira séria,
constutuinte e experimental como o Brincar da criança.

Um texto/não-poema, reescrito e reescrito no laboratório que é o blog



Quando palavras chegam e não as compreendo,
perecem enxames de libélulas, borboletas, grilos, traças, corvos em manadas azuis  e desenfreadas.

Escuto sons de uma língua estrangeira,
orgãos e catedrais de um passado ancestral, 
atemporais, no entanto, pois vivos e atuais.

Escutando minha alma absoluta,
letras descansam meus ombros,
asas quebradiças.

Criando raízes me transformo em pé-de-fruta,
rezo a um deus desconhecido,
e digo, seja o que o deus quiser.

O vento balança meus galhos,
e letras, antes de serem palavras,
recuam assustadas,
não mais  me rodeam em enxames,
não se juntam em sílabas,
nem dançam à luz de meu olhar.

Outras letras no entanto, chegam
se encadeiam e formam palavras inteiras,
coriscos riscando noites de verão,
vagalumes pisca-pisca,
 palavras soltas, antes de formarem frases.

Por que preciso das palavras?
Por que não as deixo em paz?
Ora, me perturbam,
ousam me renovar,
e criam realidades.

Mas aqui, com palavras construí
um excesso de imagens.

menos é mais.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Mensagem para 2013




Queridos blogueiros,

obrigada a todos, obrigada por suas mensagens amigas. Estou lendo Amós Oz, "de amor e trevas". Na página 76 ele diz: "Não precisamos de literatura lamuriante, e já nos cansamos de (...)".
Esta frase bateu forte em mim.
Que tenhamos em 2013 uma arte original e inovadora. E que esta arte nos forneça outras visões de mundo. A dor existe e é parte da vida, mas não façamos de nossa dor  lamentações.
Que possamos usar a alegria e a dor para criar perspectivas, e também para encontrar saídas.
Precisamos de territórios e saídas. Desejo-lhes de coração que encontrem territórios e saídas. Que o "estrangeiro" de cada um de nós se fortaleça, e nos fortaleça. Desejo que cada um de nós possa fazer da própria vida uma obra de arte.
Todo meu carinho!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal e Ano Novo









Deixo uma cumbuca de cristal bem límpido com cerejas e romãs à porta de cada blogueiro, amigos queridos de tantos anos. Os blogs estão aqui _ desde 2008? Cerejas e romãs símbolos de criatividade e prosperidade. Em minha cabeça e coração ronda uma música de Natal, que todos vocês sejam abençoados. Será que o tempo realmente, passa mais rápido? Será que a rotação do planeta ganhou velocidade? Acho que deveríamos perguntar à ciência da física, com suas investigações ela abriu e construiu paradigmas. O Pensamento complexo brota bastante da física. E a física (era) uma ciência que se chamava exata... Não Mais? ! Bendita física quântica. Não somos exatos. Somos. cada um de nós, inesperados. Benditos cada um de vocês, cada um de nós. Com amor, Eliane


(A ilustração é a carta "O Mago", do Tarô, desenhada por mim.  Ou seja, não foi copiada de nehum baralho consagrado. Esta carta representa alguém seguindo seu caminho, de posse dos instrumentos aprendidos, ao longo da vida).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Seus tons eram os neutros,
 se vestia em cores escuras.

A roupa respirava nos armários,
 básica e minimalista,
 se entrava um vestido, saíam dois.
 
O colar de pérolas acrescentava a luz,
 e é claro, as esmeraldas sorridentes de seus olhos.
 
Apaixonada frugal e discreta,
 intensidade presente e contida,
 seu riso franco nunca foi escandaloso.
 
A última vez que a vi tinha os olhos fechados,
 um colar de pérolas,
 na cabeça um lenço colorido,
 e no peito o Espírito Santo de madeira,
 que encontrei para você numa estrada.


sábado, 8 de dezembro de 2012


Tudo do que somos parte
 
Em tempo de telefonia
pessoas são  luzes e pedras incrustadas.

 
Na célula-elevador, ou naquelas das salas-de-espera,
não se escuta Bom dia!
E se alguém diz sonoramente, Bom dia,
o espanto adormecido ensurdece
e emudece o entorno.

 

A fala nesses tempos mora nas gravações mecânicas,
em câmaras ocultas, na televisão,
das quais saem sons e imagens que se refletem no vidro
dos vasos de orquídeas plastificadas,
mudos como pessoas vitrificadas.

E no entanto, somos orgânicos,
sentimentais.

Feitos de células intercomunicáveis,
ansiamos e sofremos de solidão pela ausência
e silêncio do outro humano.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Transcriação poética

Para Haroldo de Campos, poesia não é passivel de tradução, transportar um poema de uma língua para outra, ele chamava de "transcriação poética".
O livro de WISLAWA SZYMBORSKA, (poemas),
Tradução de Regina Przybycien,
Companhia das Letras, Saõ Paulo, 2011,
é um bom exemplo desse conceito de Haroldo de Campos.

A poesia da poeta polonesa é maravilhosa, descobri-a pelos acasos do cotidiano, na livraria do cinema Reserva Cultural, Avenida Paulista, São Paulo. Os caractéres da Língua Polonesa são bem diferentes dos de nosso alfabeto. A visualidade do(s) poema(s) em polonês é uma. A do(s) poema(s) da poeta SZYMBORSKA transportado(s) para o português por Przybycien é uma outra, completamente diferente. A sonoridade então, será inteiramente distinta. Gostaria muito de escutá-lo(s) na língua original. Vemos que um poema é bom, quando dito ou lido numa língua desconhecida para nós, como o polonês é para mim, pela sonoridade do poema.
Neste livro vemos ilustrado o conceito de Haroldo, assim como percebemos, através do estranhamento, que poemas possuem dois signos, o visual e o auditivo. Poemas são ideogramáticos, visuais e sonoros. Vale para a literatura, mas na poesia é mais escancarado. O nome  de WISLAWA SZYMBORSKA pronuncia-se mais ou menos Vissuáva Chembórska. (pag 10).


 

Poema de Wislawa Szymborska

(Tradução de Regina Przybycien)



As três palavras mais estranhas



Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira aílaba já se perde no passado.


Quando pronuncio a palavra Silêncio,
suprimo-o.


Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum lugar.