quarta-feira, 21 de março de 2012

Poema inútil 3






No mesmo espaço,
 dois apartamentos:
o dele é penumbra,
o dela iluminado
Futebol versos poesia:
algazarra de homem,
perfume de mulher
Em um computador números,
no outro palavras e blogs
O dele sabe, ela não conhece
Na pasta e no vinho
os dois apartamentos se reúnem,
juntando os moradores

segunda-feira, 19 de março de 2012

Poema Inútil










Ser mãe é atávico:
mais mar que terra

O leite materno baleia e golfinho
vulcão e lava

Ser mãe é ser montanha gretada,
e ser deserto entre um ou dois oásis

É ser uma duna
que lá nos milênios foi ilha vulcânica,
lavrada em lava


Ser mãe é ser um tanto
e um quase nada



Écran: Pesquisa etimológica

Pesquisa

Grande Dicionário Francês/português, Português/francês, Domingos Azevedo, 7° edição, Livraria Bertrand
Écran:
Substantivo masculino: Guarda-fogo, pequeno instrumento destinado a preservar a cara e principalmente os olhos da ação direta do fogo.
Física: Quadro branco sobre o qual se faz cair a imagem de um objeto.
Écran de Fumée, cortina de fumo, fumo artificial destinado a ocultar qualquer (alguma) coisa à vista do inimigo.
Cinema: Tela, Figurativo. A arte cinematográfica: Les nouveautés de l´Écran.

Reflexão pessoal:
Écran parece ser uma dessas expressões não passíveis de tradução. Como Das Unheimliche, usada por Freud para criar o conceito de Estranhamento. Nesse sentido elas se aparentam na sua estrangeiridade. Em Português teríamos Banzo?! O sentimento dos escravos vindos da África, uma expressão que transcende Saudade. Banzo matava. Saudade uma expressão que só existe em portugês.
Eliane Accioly

domingo, 18 de março de 2012

VIVER no TEMPO

MENESTREU NÔMADE
MORO NO INSTANTE

sábado, 17 de março de 2012

Tradução poética, ou não tradução?

(No Atelier de Pintura do qual participo semanalmente, ali pintamos, e também refletimos: O que é a arte?)

         




          Um poema, ou a grande literatura, como Clarice Lispector ou Roberto Balaño que acabo de ler pela primeira vez _2666, são transportados a outras línguas maternas, certamente. Mas não se pode falar em tradução. Haroldo de Campo dizia que um poema é não traduzível, e a não tradução ele chamou de transcriação. E o que é isto?
          Em 1919 Victor Chilovski cria um conceito:  A  arte como procedimento estético.  Para ele o poeta desloca um objeto, um signo, uma palavra do lugar corriqueiro e banal do senso comum, e cria um contexto que possui suas próprias leis, ou relações.  Como um ideograma, cujo contexto encontra-se nas relações entre os caracteres. Tal contexto não obedece às funções referenciais da linguagem.  
          (Cada língua é uma cultura, uma maneira de pensar. Um chinês, por exemplo, pensa de maneira muito diferente do ocidental, pois não apenas sua escrita é ideogramática, e a língua falada não é gramatical. Um chinês não pergunta se você está com medo. Ele diz: Vejo medo em você. Para pensar a ciência ocidental, por exemplo, um chinês recorre ao inglês. Haroldo de Campos dizia que um chinês pensa em imagens, e sua escrita ideogramática é imagética. Neste sentido, a escrita ideogramática se aproxima da literatura e da poética, e se difere do que conhecemos como linguagem discursiva. Em qualquer língua literatura se faz de imagens, diferenciando-se da linguagem discursiva).
          Também em 1919 Freud cria o conceito Das unhimiliche, expressão alemã cheia de ambiguidades.  Como Chlovski Freud fala da perda das referências que nos levam a desconhecer um objeto, e assim, a estranhá-lo.  Esta expressão, Das unhimiliche, é não traduzível.  Pierre Fèdida, psicanalista francês de origem nigeriana, judeu, transporta a expressão Das unhimiliche para o francês como: o estranho íntimo. Fèdida desenvolveria o conceito de estrangeiro.  Para ele o artista e o psicanalista são estrangeiros.  Vivem o estranho íntimo em suas vidas.  Em estado de risco, sem as garantias que a linguagem referencial procura oferecer, nos contando como é uma cadeira, por exemplo, e para o que ela serve.
          Trata-se de conceitos que não apenas podemos estudar, como viver. São conceitos- vivências.  O poema é da ordem do visual, do auditivo, do palpável, possui uma materialidade.  As palavras e a língua materna são a matéria prima bruta do poeta.  Assim, o poema pode viajar para outras línguas maternas.  Mas se escutamos um poema recitado em português, talvez não o reconheçamos caso seja recitado em espanhol; duas línguas neolatinas parecidas e estranhamente diferentes entre si.  Caso o poema em português seja transportado para uma língua não fonética, como o hebreu, ah, que outro poema. A qualidade da sonoridade de uma recitação pode em si, nos contar da qualidade do poema. E se olhamos para o poema na língua materna do poeta, e em seu transporte para outra língua materna, enxergamos a diferença, como se quadros que criam uma poética em seu conjunto, sendo o outro do outro.
          Descobri um livro de poesia de uma autora polonesa. Poemas em português, e o original em polonês. Comprei-o após ler um poema, A alegria da escrita. E também pela capa estampando a foto da poeta diante de uma xícara de café, semi-escondida pela fumaça de um cigarro e pela mão que o segura.  Trata-se de WISLAWA SKYMBORSKA, não-traduzida por: Regina Przybycien.  O não-tradutor precisa como o poeta, ser poeta, ou seja, estrangeiro. Um estrangeiro em sua própria língua, que aliás, de certa forma, lhe pertence e não pertence. O poema  A alegria da escrita em português e polonês são distintos visualmente, para mim que não leio polonês.  Podemos enxergar diferentes desenhos e ou texturas.  São diferentes desenhos, ou texturas.   Seria maravilhoso se alguém aqui pudesse ler este poema em polonês. Escutar a melodia do poema em polonês.
         No pequeno texto retirado do Google que enviei a vocês do Alberto Giacometti, o pintor suíço cuja exposição estará na Pinacoteca a partir de 24 de março, há algumas linhas que dizem:  As personagens isoladas ou em grupos, criam um sentido de descontextualização.  Esta linha diz pelo negativo, o que procuro dizer pelo positivo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Saudades de Mirò _ para alegrar os blogueiros

De Juan Mirò, encontrada através do Google, no blob Juan Miro arts
Título da obra:
A fazenda

sábado, 10 de março de 2012

Prisão

A caminho do Pacaembu, um espaço outro a arrebata _ cidade arcos praia mar,  mundo terracota. É Lages, conta alguém. À beira mar o sentimento, Por favor, quero voltar, Vá ao metrô, lhe dizem, Em Lages o metrô é um barco, e atravessa a Gruta Azul, Como chego? Pela quebrada da rua, e uma mão aponta, enquanto o mar terracora murmura _ Por que criou Lages? Sabe? Existimos porque você acredita. Semicerra os olhos para olhar ao longe, e o horizonte falta. Ou se oculta.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Poema de Maria de Jesus Fortuna _ "Outono, outro tempo"

Querida amiga, lembrei-me da poesia que escrevi em 2002 saudando o outono...



Outono, novo tempo!

Maria J Fortuna




Sâo esses dias de encantamento
que dormem sob minha pele
Eu os vejo como brilhantes
enfeitando meu outono
Debulhando o trigo louro
de novas expectativas...

Que privilegio ver o por de sol
e a aurora ao mesmo tempo
Nesta linda estação dourada
onde, ainda nos cachos,
as uvas guardam seu vinho maduro!

E a beleza é tão surreal
quanto o afago das luvas do sonho
Cavalgo livre de rédeas
sobre as minhas inseguranças
E ofereço vida a vida

quinta-feira, 8 de março de 2012

Sentir outono

na varanda tomando café após almoçar percebeu, o tempo mudou; as chuvas de março calaram as cigarras e o verão; não foi só a brisa e o céu azul, uma coisa em seu peito, leveza amorosa, memória sem forma e sem palavras. Falou para si em meio ao sorriso, Adoro o outono.

Homenagem a Franco Basaglia

“Sou como o menestrel medieval que percorre as aldeias e vai embora.
É necessário que quando eu partir, o palco não fique vazio.”
Franco Basaglia, 1982.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Ainda dialogando com Arnaldo Jabor





Na crônica “A mulher não existe” Jabor diz que o gay masculino é veado, mas a mulher é lésbica. O primeiro nome foi cunhado pelos machistas, se tomarmos Deleuze e Guattari, o machista , parte da forma-homem, o devir homem ocidental, o mais pesado que poderia haver, o que faz as guerras, e coloniza. Este é devir maior. Enquanto, para os mesmos autores, há o devir mulher, devir menor.
O termo para a mulher vem de Lesbos, a ilha mítica grega. Mas homens e mulheres estão na mitologia grega, um universos de deuses e deusas, os humanos mortais, os centauros, sátiros e faunos, entre outros.
A forma da família nuclear homem, mulher, filhos se permanece como uma forma de família, não possui hegemonia, felizmente, e a família vem mudando de muitas maneiras: casais de separam e constituem novos pares, e os filhos têm então, uma grande família, no melhor dos casos, nos novos lares entre as novas uniões de seus pais e mães.
E agora temos as famílias dos casais gays homens ou mulheres. Alguns adotam crianças, outros preferem ter filhos gerados, e um membro do casal seria o doador do esperma, no caso do par masculino, e no feminino, uma das mulheres é elegida pelo casal enquanto a mãe biológica. Há um filme que trata de um casal de mulheres e seus filhos, que vão em busca do pai, que no filme, é o pai dos filhos do casal de lésbicas.
O nome do amor entre homens também poderia vir dos antigos gregos, entre os quais, efebos tinham seu mentor, sendo natural na cultura um jovem ser iniciado amorosamente por um homem mais velho.
Este pequeno texto é uma ratificação ao termo veado que usei brincando com Jabor, que me parece sempre pejorativo, e não o uso. Jabor o usou para falar do diferente tratamento entre homens e mulheres gays. Viva as diferenças e a desconstrução das formas hegemônicas, tão pesadas e carregadas de sofrimento por cada um de nós.

terça-feira, 6 de março de 2012

Para Arnaldo Jabor, na crônica: A mulher não existe


Jabor,

Gosto de crônicas enquanto gênero literário. Aprecio cronistas, e me admiro dos que escrevem semanalmente, para mim, tarefa da ordem do impossível. E cronistas escrevem. Como a mulher, o/a cronista não existe, mas os cronistas; e cada qual tem seu dia. Concordo com você em gênero número e grau, a mulher não existe, felizmente, existem mulheres. E sou entre as mulheres.

Também acredito que não existe o homem, mas homens. Infelizmente o homem teima em existir, e isto faz a vida dele mais sem graça. Muitas vezes, um inferno. Colocaria você no território feminino, não como veado, como um entre os homens femininos. Poucos e bem vindos. É um elogio.

Adorei a crônica, me senti compreendida. O homem tal como se faz pregar é a forma homem branco, o devir homem de Fèlix Guattari e Gilles Deleuse. Os dois filósofos parceiros consideravam o devir mulher muito mais interessante; este seria devir menor. Estou com os dois, que se pretendiam devir menor; não sei se conseguiram em suas vidas pessoais, mas sinto uma profunda gradidão por suas contribuições.

Persigo o devir menor, estar na vida sem garantias. E gosto de ser entre as mulheres. realmente, a mulher não existe, só no plural.


Um grande abraço feliz,



Eliane Accioly



NB: um convite, clica em meus blogs, (os endereços estão no corpo do e.mail) se tiver tempo, neste seu mundo ocupado.